29 de julho de 2009

Secas ou Cercas no Semi-Árido


Além de discutir impactos do agronegócio, Fórum busca fortalecer alternativas de convivência com semi-árido

Limoeiro do Norte - Para um Estado que possui 86,82% do seu território inserido no chamado semi-árido, têm três milhões de pessoas sem acesso à água potável, cinco milhões sem sistema de saneamento e ainda enfrenta a poluição de seus canais e mananciais com agrotóxicos, saber conviver com solo e clima é ainda uma questão de sobrevivência, mesmo 50 anos depois de Celso Furtado afirmar que o problema do Nordeste “não é a seca, é a cerca”. De ontem até amanhã, representantes de ONGs e comunidades encontram-se em Limoeiro do Norte em comemoração aos 10 anos do Fórum Cearense Pela Vida no Semi-Árido e, também, para o VII Encontro Estadual com a mesma temática.

As principais propostas do Fórum são refletir sobre os impactos do agronegócio para a agricultura familiar, aprofundar as temáticas “Agroecologia”, “Relações desiguais de gênero”, “Juventude Rural”, “Acesso a terra e água”, “construção do conhecimento da economia solidária a partir das experiências sociais”, e escolha das delegações para o VII Encontro Nacional da Articulação com o Semi-árido (Enconasa).

Histórico de lutas

Na tarde de ontem, a abertura aconteceu com debate sobre o avanço do agronegócio e os impactos na agricultura familiar, com os professores Raquel Rigotto (UFC) e Hidelbrando Soares (Uece). Raquel faz parte de um grupo de estudiosos que pesquisam o impacto dos agrotóxicos nos trabalhadores e nas comunidades de Limoeiro do Norte. O trabalho já existe há mais de um ano e pretende fazer um rigoroso levantamento sobre a contaminação por venenos tanto na aplicação pelos trabalhadores como de que forma os alimentos passam a ser nocivos.

Também debatedora, Maria Ozarina, da comunidade de Lagoa dos Cavalos, localizada em Russas, falou da trajetória de resistência e luta da comunidade, em parte ocupada por projetos que podem gerar a expropriação de terras.

A comunidade de Lagoa dos Cavalos é considerada uma das maiores referências na região jaguaribana no trato com a agroecologia e a exploração sustentável. A produção rural integra a comunidade, que desenvolve trabalhos culturais e sociais auto-sustentáveis.

Hoje pela manhã, haverá explanação dos vários exemplos bem sucedidos de convivência com o semi-árido, seguido de uma audiência pública na comunidade de Peixe, em Russas, com ato de mobilização e apoio às comunidades afetadas pelo projeto Tabuleiros de Russas.

Três milhões de cearenses não têm acesso à água potável. O número vem do estudo “Cenário Atual dos Recursos Hídricos do Ceará”, elaborado por 96 instituições governamentais e não-governamentais participantes do Pacto das Águas e coordenado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.

De acordo com Zoraia Nunes, da Cáritas Regional Ceará, o encontro representa um ato de reflexão e união de forças na luta contra a desigualdade social e a favor do meio ambiente. Dentre exemplos de convivência com o semi-árido, além da agroecologia, está a construção de cisternas, além da comercialização de produtos da agricultura e do artesanato sem os tradicionais atravessadores, que diminuem a lucratividade do produtor. Assim, existem no Interior as chamadas Bodegas Nordeste Vivo e Solidário, que nos moldes da economia solidária apóiam os pequenos produtores, dão o preço certo, convergem o ponto de venda e capacitam homens e mulheres a melhorar a produção e garantir o sustento da família. Na bodega solidária de Aracati, artesanatos e produtos orgânicos como mel e feijão são vendidos para o Ceará e outros estados, e o lucro é revertido para os produtores da bodega, que atuam em regime associativo. Amanhã de manhã, acontece a escolha das delegações que vão participar do Encontro Nacional pela Vida no Semi-Árinaldo.

Programação

Diversas atividades estão programadas para em comemoração aos 10 anos do Fórum Cearense Pela Vida no Semi-Árido e, também, para o VII Encontro Estadual com a mesma temática. A partir das 6h30 de hoje, haverá visita às experiências dos eixos temáticos agroecologia e construção do conhecimento no município de Potiretama; ´Juventude rural e acesso à terra´, em Russas, e ´Economia Solidária´, em Aracati. Em seguida, haverá audiência pública na Quadra Esportiva da Escola Dr. Ézio de Souza, às 15 horas. À noite acontece, no Seminário Diocesano de Limoeiro, confraternização e momento de celebração dos 10 anos FCVSA

Discussões

Amanhã a programação segue com discussão sobre as visitas às experiências dos eixos temáticos, plenária de definição da deleção do FCVSA para participar do VIII Enconasa e renovação da coordenação


Fonte: Diário do Nordeste (Ceará) – 23.07 e Informativo da ASA

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