28 de março de 2009

Hoje é Dia da Inclusão Digital. E não há o que comemorar

Hoje, último sábado de março, diversos municípios brasileiros celebram o Dia da Inclusão Digital. E, este ano, em especial, o Brasil não tem muito a comemorar.

Divulgado na quinta-feira, 26/03, pelo Fórum Econômico Mundial, o ranking de implantação de tecnologias de informação e comunicação (TIC) no mundo é implacável conosco. O Brasil aparece na 59ª posição. A mesma do ano passado. O problema é que desde 2005, quando caiu seis posições e passou a ocupar 52ª, a situação do Brasil só tem piorado. Antes, em 2003, quando o relatório analisava apenas 82 países, chegamos a ficar na 29ª colocação.

Para piorar, a pesquisa TIC Domicílios 2008, divulgada também esta semana pelo Comitê Gestor da Internet, atesta que os telecentros, abertos em profusão pelo poder público a partir de 2003 para fomentar o acesso à Internet, caminharam na contramão dos pontos de acesso públicos (as lan houses), que não param de crescer. Em 2007, os telecentros foram responsáveis por 6% dos acessos no país, com crescimento de 100% em relação a 2006. Mas em 2008 este número caiu pela metade e ficou em 3%, contra 48% das lan houses.

Claro. Tudo é relativo. Os números não podem ser olhados fora de contexto. É preciso levar em conta que existem hoje pouco mais de 6 mil telecentros em funcionamento no Brasil, segundo dados fornecidos pelo Secretário de Logística e TI do Ministério da Fazenda, Rogério Santanna. Já as lan houses passam de 90 mil, segundo a a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital).

Na prática, a imensa maioria (83%) das Lan houses vive na informalidade, à mercê da atuação das mais diversas forças sociais, boas e más; das tentativas de cartelização do custo do acesso; do alto custo das licenças de software, que leva à pirataria e entraves aos processos de legalização de suas atividades; e por aí vai...

E se diferenciam dos telecentros por não terem regras tão rígidas de uso. Com seus acertos e erros, em muitas localidades elas se transformaram na única fonte barata e acessível de acesso à Internet.

Por isso, mesmo não sendo 'bem-vistas' por boa parte dos gestores da Internet nacional, as lan houses começam a chamar a atenção. Já há quem, dentro dos governos, federal e estaduais, admita que é hora de rever a posição com relação a elas.

É o caso do próprio Rogério Santanna. "Temos que repensar e refletir. Elas precisam ser incluídas na política pública de inclusão digital. Não podemos mais vê-las com um olhar de criminalização", disse ele aos jornalistas, durante a divulgação da pesquisa do Comitê Gestor.

É o caso também de Paulo Markun, presidente da Fundação e Cláudio Prado, coordenador do Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e autor, na gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura, do projeto Pontos de Cultura. Ambos defendem a transformação das lan houses na quarta onda da inclusão digital.

"A 1ª onda foi “informática para os excluídos - senão você não vai ser ninguém na vida“. A 2ª onda foram os Telecentros da cidade de São Paulo, onde já não se falava de informática, mas sim de Internet com Banda Larga e Software Livre. (...) A 3a geração, a da Cultura Digital, deriva da compreensão de que para o uso pleno das possibilidades interativas da Internet, é necessário existir um espaço multimídia e não só computadores", explica Cláudio Prado em artigo publicado na internet e em peças publicitárias do projeto Conexão Cultura, da Fundação Padre Anchieta, que apoia.

Confira o vídeo da palestra de Paulo Markun na Campus Party (feita pela IPTV da Cultura), em que ele divulga a pesquisa feita pela fundção sobre a atuação das lan houses e apresenta o projeto Conexaão Cultura, que a partir deste mês começa a ceder conteúdos qualificados _ cursos profissionalizantes, serviços governamentais, conteúdo de apoio escolar, vários deles produzidos pela própria TV Cultura _ para lan houses conveniadas.


Se vai dar certo, só o tempo dirá. Ao menos é uma iniciativa, consistente, de tentar mudar a situação.

É hora também de repensarmos os telecentros. E o uso que os programas de e-gov possam fazer de aparelhos celulares, verdadeiros vetores de inclusão social e digital do brasileiro. Depois da TV e do Rádio, o celular é objeto mais presente nos lares do país seja na área urbana e rural, sendo que nesta última - apesar de problemas de infraestrutura e de falta de cobertura - os celulares já chegam a 62% da população.

Quem sabe, no ano que vem, voltamos a ter a chance de nos orgulharmos de ver o país galgar posições no ranking de implantação de tecnologias de informação e comunicação do Fórum Econômico Mundial.

Quem sabe...

Nenhum comentário: